sábado, 6 de outubro de 2012

Ecdise.

Ecdise - segundo a wikipédia, ecdise é o nome científico dado ao fenómeno da mudança de pele em alguns animais; ainda segundo a mesma fonte, cito, "a possibilidade de mudar a pele permite-lhes também mudarem de forma, as metamorfoses que permitem que o animal se adapte a novos ambientes"; segundo outro sítio na internet, "é um processo normal e desejável, que promove a renovação dos tecidos e o crescimento".

Após reflectir - agora estou numa fase reflectiva - cheguei à conclusão de que o facto de, ultimamente - e sem mais rodeios, assim preto no branco, mesmo que fique mal, mesmo que "não faça o meu estilo", mesmo que deva ser positiva, ora que há momentos em que me apetece mandar o pensamento positivo à fava e deixa que me sinta na merda - a razão para eu andar tão insatisfeita e tão sensível e tão inconformada com tudo ultimamente, nada se trata mais do que, apenas, uma mudança, muito grande, uma metamorfose, uma espécie de mudança de pele.

Vim agora de uma experiência de vida, que tive a oportunidade de usufruir, e que me mudou muito. Fez-me crescer muitíssimo. Em muitos os aspectos, seriam demais para listá-los aqui. Uma das mudanças, a meu ver em termos de crescimento, foi o da forma como me vejo a mim mesma. Já não me vejo como aquela miúda que só quer fazer o que gosta, e desde que haja comida e internet em casa, e desde que os meus pais me dêem algum dinheiro para eu me divertir com os meus amigos e comprar roupas novas, então sou feliz. Sim, porque dantes eu era assim, apenas preocupada com os prazeres imediatos, um pouco a atirar para o fútil e pior, não dava valor a nada. Agora não, agora vejo-me como uma pessoa muito mais responsável e com muito mais consideração pelas outras pessoas (nomeadamente pelos meus pais), uma pessoa que sabe ficar grata com muito mais. Já me preocupo mais do que aquilo que constitui prazer imediato, já penso mais à frente, já tenho outra perspectiva. E com esta mudança de perspectiva, veio a vontade de "voar". A verdadeira razão por que eu tenho andado triste não é tanto pelas coisas objectivas que me chateiam, as coisas do dia-a-dia, os problemas que toda a gente tem, as coisas que chateiam e que moem, as más notícias todos os dias no jornal da noite, a mãe que diz isto ou o pai que diz aquilo, mas sim porque esta volta à minha antiga realidade está a ser um choque e um confronto enormes comigo mesma e com o que eu era antes. É uma transição psicológica, uma completa falta de ajustamento entre o que eu sou e estar a viver de novo a vida que vivia antes, quando era outra pessoa,de certa forma. E por isso é que eu quero, sinto esta vontade imensa de mudar. Ainda não sei como, mas sei lá, sinto vontade de mudar a minha vida de alguma forma! Sinto que o meu modo de viver não corresponde à pessoa que sou, ou à forma como me vejo, à minha nova identidade, porque criei uma. E sinto que tenho de fazer algo em relação a isso, sob pena de nunca me sentir completamente satisfeita comigo mesma.

Esta é a melhor forma que encontrei para explicar que não é tanto pelas circunstâncias do quotidiano, as coisas que correm menos bem, que me sinto insatisfeita, eu sei que tudo isso são apenas estados de coisas que são temporários, e passageiros, e mudam sempre, e que vão passar, e que vão melhorar; é uma questão muito mais profunda do que isso, é uma questão de transição psicológica, uma transição de identidade e diria até, alma; é uma constante insatisfação e incomformidade que sinto em relação ao abismo gritante que vejo entre mim e o resto do mundo; e que preciso mudar, que preciso reduzir este abismo, que tenho de encontrar uma forma de me ajustar ou encontrar outra realidade que se ajuste melhor a mim. Não é algo necessariamente mau, é algo que motiva e incentiva a mudança, que me motiva a ir à procura, e a descobrir, e a viver melhor.


Eu mudei, muito, por dentro (e por fora), mas nada mudou em relação a quando eu parti; o mundo continua a girar apesar das minhas dores existenciais, e o que posso eu fazer? Mudar de pele. Mudar de vida. Mudar, mudar, mudar. Dê lá por onde der, ainda hei-de arranjar uma forma de mudar alguma coisa.

Enfim, são apenas algumas “dores do crescimento”. Fazem parte, e fazem falta para crescer.

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