domingo, 24 de fevereiro de 2013

Porque a Regina me faz lembrar das coisas pequenas, daquelas a que nunca damos a mínima importância, por serem tão pequenas, mas ao mesmo tempo, tão grandes, na sua existência, na sua espontaneidade, na sua banalidade, de simplesmente serem, e por serem, nunca repararmos nelas. As coisas infantis, ingénuas, impulsivas, instintivas.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Adeus

"Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mão à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis. 
 
Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar. 

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
e eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os meus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros. 

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas. 

Adeus."



Eugénio de Andrade
 

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Sempre fui pouco confrontadora. Achava que era um defeito, que me deixava pisar, rebaixar, deixar os outros levar a melhor. Com o tempo, aprendi que ser pouco confrontadora permitia-me uma maior paz interior. Ao que não dou importância, não confronto, ao que me é indiferente, não confronto. As atitudes alheias que nunca confrontei, deixaram de me incomodar. Deixei de ter a necessidade de confrontar os outros por achar que era o que devia fazer, mas não conseguir e viver numa insatisfação interior permanente. A palavra-chave que estava errada nesta equação era, precisamente, o "devia fazer". Não devo fazer nada que não queira ou não ache que deva fazer. Assim, com o tempo, deixei de ter necessidade de me confrontar comigo mesma por não conseguir confrontar os outros. O que me incomodava, deixou de incomodar, e encontrei uma paz maior. Afinal, as más atitudes ficam em quem as tem, não em quem as recebe ou para quem elas são dirigidas.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Random.

A maioria das pessoas diz-nos o que fazer com a nossa vida, sem pensarem em mais nada, a não ser o que elas acham. Mas às vezes podemos sentir-nos desprotegidos e não conseguimos deixar de absorver o que têm a dizer, e depois pensamos... "porquê basear a minha vida na opinião desta pessoa?", e nessa altura se calhar já é tarde demais...