segunda-feira, 1 de junho de 2015

Leitura de Aura I - O Sol dividido

Um sol quebrado. Partido ao meio. Rasgado como se de papel se tratasse, rasgado com uma leveza e uma naturalidade inerentes a quem é consistente na sua inconsistência. Um sol dividido em metades. Metades que se completam, complementam e simultaneamente se auto-destroem; tão mutuamente exclusivas quanto as faces de uma mesma moeda. Separados, mas em conjunto.

Versatilidade. Corre atrás de si mesma numa busca que é constante, mas que na sua essência acaba por ser falsa; o desejo de se auto-descobrir sobrepõe-se à realidade de que está tudo mais do que a descoberto. Que é uma versatilidade de ser tudo e de não ser nada. E balanceia de um lado para o outro, com a mesma subtileza com que houveram sido criados os dois pólos extremos entre os quais se balanceia. Entre o congruente e o incongruente, o sensato e o nonsense, a terra e o ar, a estabilidade e a liberdade.

Quer e não quer ao mesmo tempo, é e não é, sente e não sente, é tão absurdo este vai e vem de seres, de sentires, esta instabilidade tão permanente de uma inquietude que já se habituou a si própria.

E assim, de dia para dia, a existência torna-se num absurdo absoluto; tem consciência de si mesma, busca-se a si mesma, encontra-se todos os dias de forma diferente. Porque tudo é possível,  principalmente a volatilidade quase irreal ou inimaginável das almas. É confusa e, por isso mesmo, é plena.