sexta-feira, 6 de maio de 2011

O Principezinho III - O essencial é invisível para os olhos...


(…) – Se eu ordenasse a um general que voasse de flor em flor como as borboletas, ou que escrevesse uma tragédia, ou que se transformasse em gaivota e se o general não executasse a ordem recebida, de quem era a culpa: minha ou dele?

- Era Vossa – respondeu firmemente o principezinho.

- Pois era. Só se pode exigir a uma pessoa o que essa pessoa pode dar – prosseguiu o rei. A autoridade baseia-se, antes de mais, no bom senso. Se um rei ordenar ao seu povo que se deite ao mar, ele revolta-se. Eu, eu tenho o direito de exigir obediência porque as minhas ordens são sensatas.

(…)

- Não tenho mais nada a fazer aqui! Disse ao rei – Vou-me embora.

- Não te vás embora – respondeu o rei, que estava tão orgulhoso por ter um súbdito – Não te vás embora, eu faço-te ministro!

- Ministro de quê?

- De… de justiça!

- Mas não há aqui ninguém para julgar!

- Nunca se sabe – disse-lhe o rei. – Ainda não dei a volta ao meu reino. Estou muito velho, não tenho espaço para uma carruagem e cansa-me andar a pé.

- Mas eu já dei a volta a tudo – disse o principezinho. – Do outro lado também não há ninguém…

- Então, julgas-te a ti próprio – respondeu o rei. – É o mais difícil de tudo. É muito mais difícil julgarmo-nos a nós próprios do que aos outros. Se conseguires julgar-te bem a ti próprio, és um autêntico sábio.

- Mas eu posso julgar-me a mim próprio em qualquer lugar. Não preciso viver aqui.

- Bom…bom… - disse o rei. – Tenho a impressão que anda por aí uma velha ratazana. Costumo ouvi-la à noite. Podes julgar essa ratazana. De tempos a tempos, condena-la à morte, e a vida dela fica suspensa da tua justiça. Depois agracia-la sempre. Como só há uma…

- Mas eu não gosto de condenar à morte – respondeu o principezinho. – Acho que me vou mesmo embora.

- Não vás – disse o rei.

O principezinho acabou os preparativos. Como não queria magoar o velho monarca, sugeriu:
- Vossa Majestade: se desejais ser pontualmente obedecido, tendes agora uma boa oportunidade de dar uma ordem sensata. Ordenai, por exemplo, que eu já aqui não esteja dentro de um minuto. As condições parecem-me as mais favoráveis…

O rei não respondeu. Primeiro, o principezinho hesitou: depois, deu um suspiro e foi-se embora.

- Faço-te meu embaixador! – apressou-se a gritar o rei.

E arvorava uns ares de grande autoridade.

“As pessoas crescidas são mesmo muito esquisitas”, foi o principezinho a pensar durante a viagem.

Sem comentários: