segunda-feira, 2 de maio de 2011

O Principezinho I - O essencial é invisível para os olhos...

Uma vez, quando eu tinha seis anos, vi uma imagem magnífica num livro sobre a Floresta Virgem chamado “Histórias Vividas”. A gravura mostrava uma jibóia a engolir uma fera.

O livro dizia que “a gibóia engole a presa inteira, sem mastigar. Depois não se pode mexer e passa os seis meses de digestão a dormir”.

Então, pensei e tornei a pensar nas aventuras da selva, peguei num lápis de cor e fiz o meu primeiro desenho. O meu desenho número 1. Ficou assim:


Fui mostrar a minha obra-prima às pessoas crescidas. Perguntei-lhes se o meu desenho metia medo. As pessoas crescidas responderam “porque é que um chapéu havia de meter medo?”. O meu desenho não era um chapéu. O meu desenho era uma jobóia a fazer a digestão de um elefante. Para as pessoas crescidas entenderem, porque as pessoas crescidas estão sempre a precisar de explicações, fui desenhar a parte de dentro da jibóia. O meu desenho número 2 ficou assim:


As pessoas crescidas disseram que era preferível eu deixar-me de jibóias abertas e jibóias fechadas e dedicar-me à geografia, à história, à matemática e à gramática. E assim abandonei, aos seis anos de idade, uma magnifica carreira de pintor. Ficara completamente abalado com o insucesso do meu desenho número 1 e do meu desenho número 2. As pessoas crescidas nunca entendem nada sozinhas e uma criança acaba por se cansar de lhes estar sempre a explicar tudo.

Escolhi, portanto, outra profissão e aprendi a pilotar. Conheci grande parte do mundo de avião (…) com um trabalho deste género tive, evidentemente, uma data de contactos com uma data de gente importante. Vivi durante anos e anos no mundo das pessoas crescidas. Vi-as bem de perto. Não fiquei com muito melhor opinião delas. Mal encontrava uma com um ar um pouco mais lúcido, fazia-lhe a experiência do meu desenho número 1, que nunca deitei fora. Queria verificar se realmente era capaz de entender alguma coisa. Mas ouvia sempre a mesma resposta: “é um chapéu”. Então, não me punha a falar de jibóias, de florestas virgens ou de estrelas. Punha-me ao seu nível. Falava de bridge, de golfe, de política e de gravatas. E a pessoa crescida ficava toda contente por ter conhecido um homem tão sensato.

Sem comentários: