"Ontem à noite fui ver INNI, Sigur Ros, uma espécie de documentário/gravações de concertos que eles deram e da história deles enquanto banda.
Escusado será dizer o quão LINDO foi... :) Arrepiei-me toda SÓ com isto, nem quero imaginar como será quando finalmente tiver a oportunidade de os ver ao vivo, mesmo a sério. Acredito que essa oportunidade algum dia virá :D
Mas o que queria partilhar, aqui, acerca deste momento, foi mesmo o pensamento que tive enquanto estava na fila à espera para entrar.
As portas nunca mais abriam, e estava um frio de gelar. 10 minutos, 20 minutos, 30 minutos... Nem parecia que estava na Holanda, mas sim em Portugal! ahah. Uma rapariga foi à porta, falou com alguém e voltou para trás muito contente e a dizer "goed, goed" (significa "good, good"). Automaticamente a minha interpretação para o que ela disse foi que estavam quase a abrir as portas. Mas não. Mais 10 ou 15 minutos se passaram... Foi então que tive o pensamento: e se a minha interpretação da reacção da rapariga tivesse sido errada? E se ela estava, apenas, feliz por outra coisa qualquer? Pode ter recebido uma chamada telefónica animadora, pode ter recebido uma chamada de um amigo que estava a chegar, uma surpresa agradável... qualquer coisa podia ser. Ao mesmo tempo, atrás de mim, estava um grupo de pessoas a falar muito animadamente, sobre viagens e tudo o mais; pelo que percebi, 2 holandeses, um alemão e alguém que ia viajar para Nova Iorque na próxima semana... Como é irresistível, estar numa fila sozinha (sim, fui sozinha, queria mesmo ver este film screening), com pessoas a falar sobre viagens e histórias interessantes em inglês, uma pessoa acaba sempre por ouvir; fiz as minhas interpretações, imaginei imediatamente histórias, memórias, imagens daquelas pessoas em sítios completamente diferentes... E agora, ali estavam, na mesma situação que eu, à espera que as portas abrissem. O que me levou ao meu segundo pensamento, o qual levou algum tempo a processar mas que me levou à seguinte conclusão: a cada segundo, milhares de vidas, histórias e memórias se cruzam... O que, por sua vez, leva a interpretações cruzadas... Eu interpreto as acções e palavras dos que me rodeiam, sejam conhecidos ou não, seja na universidade, no café, no tram, numa discoteca, num grupo de amigos, de uma forma muito única e minha, tal como toda a gente... Fiquei presa nesse pensamento durante toda a noite.
Mais tarde, na coffeeshop onde me encontrei com a Andreia, o Marcel e a Laila, contei-lhes sobre o meu pensamento e mais tarde, já no tram de volta para o campus com o Marcel, contei-lhe sobre o meu pensamento, e fomos ainda mais fundo no assunto. Matematicamente falando, disse eu, o número de interpretações cruzadas e consequentes "conexões únicas" possíveis é quase infinito... para obter um número mais exacto, todas as pessoas do mundo tinham de se cruzar pelo menos uma vez na vida, com outra pessoa no mundo, o que seria qualquer coisa como 7 biliões de pessoas "elevado" a 7 biliões de pessoas. Mas isso é impossível, considerando que a cada segundo uma pessoa morre e outra nasce. Uma pessoa única desaparece, dando lugar a um pessoa também única. O que leva a que o número de conexões possível seja quase infinito... O que nos levou a conceitos ainda mais profundos, acerca de como tudo se repete, e tudo se transforma, nada desaparece nem nada se cria, o que, por esta lógica, leva ao pensamento de que uma pessoa que nasce a cada segundo não é mais do que a repetição de outra que pode já ter vivido milhares de anos atrás, e se considerarmos, então, que não sabemos quando ou onde o TEMPO começou, e se considerarmos que a visão científica do início do mundo parte do princípio que somos os primeiros seres humanos na terra, e considerando que o mais provável é mesmo que isso não seja verdade, mas sim que a terra já se tenha repetido em si mesma tantas vezes quantas nunca poderemos saber, partindo deste princípio da repetição, então o número de cruzamentos possível acabaria por ter um fim e, em si mesmo, repetir-se de novo." Tudo isto com "Sigur Ros on my mind"... transcendi-me.
Vivido e escrito algures em 2011
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