Um sol quebrado. Partido ao meio. Rasgado como se de papel
se tratasse, rasgado com uma leveza e uma naturalidade inerentes a quem é
consistente na sua inconsistência. Um sol dividido em metades. Metades que se
completam, complementam e simultaneamente se auto-destroem; tão mutuamente
exclusivas quanto as faces de uma mesma moeda. Separados, mas em conjunto.
Versatilidade. Corre atrás de si mesma numa busca que é
constante, mas que na sua essência acaba por ser falsa; o desejo de se auto-descobrir sobrepõe-se à realidade
de que está tudo mais do que a descoberto. Que é uma versatilidade de ser tudo e
de não ser nada. E balanceia de um lado para o outro, com a mesma subtileza com que houveram sido criados os dois pólos extremos entre os quais se balanceia. Entre o congruente e o incongruente, o sensato e o nonsense, a terra e o ar, a
estabilidade e a liberdade.
Quer e não quer ao mesmo tempo, é e não é, sente e não
sente, é tão absurdo este vai e vem de seres, de sentires, esta instabilidade
tão permanente de uma inquietude que já se habituou a si própria.
E assim, de dia para dia, a existência torna-se num absurdo absoluto; tem consciência de si mesma, busca-se a si mesma, encontra-se
todos os dias de forma diferente. Porque tudo é possível, principalmente a volatilidade quase irreal ou
inimaginável das almas. É confusa e, por isso mesmo, é plena.