sábado, 2 de abril de 2011

A Viagem do Elefante, José Saramago II - Sempre chegamos ao sítio aonde nos esperam.



Não é verdade que o céu seja indiferente às nossas preocupações e anseios. O céu está constantemente a enviar-nos sinais, avisos, e se não dizemos bons conselhos é porque a experiência de um lado e do outro, isto é, a dele e a nossa, já demonstrou que não vale a pena esforçar a memória, que todos a temos mais ou menos fraca (…) É este o grande equívoco do céu, como a ele nada é impossível, imagina que os homens, feitos, segundo se diz, à imagem e semelhança do seu poderoso inquilino, gozam do mesmo privilégio.

(…) a morte é entendida como princípio gerador da vida.

(…) porque tudo isto são palavras, e só palavras, fora das palavras não há nada (…) uma palavra que, como todas as mais, só por outras palavras poderá ser explicada, mas, como as palavras que tentaram explicar, quer tenham conseguido fazê-lo ou não, terão, por sua vez, de ser explicadas, o nosso discurso avançará sem rumo, alternará, como por maldição , o errado com o certo, sem se ar conta do que está bem e do que está mal.

(…) uma boa coisa que a ignorância tem é defender-nos dos falsos saberes.
Somos, cada vez mais, os defeitos que temos, não as qualidades.
(…) assim se demonstrando, uma vez mais, não só que o óptimo é inimigo do bom, mas também que o bom, por muito que se esforce, nunca chegará aos calcanhares do óptimo.
Ter de pagar pelos próprios sonhos deve ser o pior dos desesperos.
Quando o cérebro divaga, quando nos arrebata nas asas do devaneio, nem damos pelas distâncias percorridas, sobretudo quando os pés que nos levam não são os nossos.
O egoísmo, geralmente tido por uma das atitudes mais negativas e reprováveis da espécie humana, pode ter, em certas circunstâncias, as suas boas razões.
(…) o respeito pelos sentimentos alheios é a melhor condição para uma próspera e feliz vida de relações e afectos. É a diferença entre um categórico Levanta-te e um dubitativo E se tu te levantasses.

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