Por alguma razão, o "propósito de vida" está sempre associado àquilo que fazemos enquanto profissão, tanto que na busca (que confesso que fiz) sobre "propósito de vida", ou "missão de vida", vem sempre isso à tona.
Mas a frase diz "propósito de VIDA". E por isso mesmo, não tem de se referir só ao trabalho mas sim, a todas as dimensões da nossa vida, de uma forma holística. da VIDA.
Podemos criar uma carreira brilhante, mas quando estivermos no nosso leito de morte, é nisso que vamos pensar?
Tantas vezes renegamos para segundo plano as relações, a satisfação pessoal, o amor, a amizade, as condições de vida que temos, se fomos boas pessoas, se deixámos algo positivo no mundo, se deixámos a nossa marca. O que interessa é o curso, o trabalho e o dinheiro. E se a missão de "vida", aplicada à carreira, incluir a palavra "ajudar", então o quadro ainda fica mais bonito.
Mas, mais bonito para quem? Para os outros ou para nós?
A VERDADE NUA, CRUA E DURA: MINHA MISSÃO PRINCIPAL NÃO PASSA NECESSARIAMENTE POR AJUDAR
Eu vou ser sincera quanto a isto: ajudar os outros não é a minha principal missão; desculpa, universo, se estou a ser insensível ou egoísta! Se puder ajudar, ótimo! Mas não é a minha prioridade! Não é o que me realiza mais! Não é aquilo que ao fim do dia me faz dizer "hoje foi um dia bom". Claro que me sinto feliz se alguém ficar feliz ou se puder ajudar alguém, mas não oriento a minha vida nesse sentido.
Não nasci com essa benção.
Então, o que é?
NÃO FAÇO IDEIA
A verdade é que eu ainda não descobri a minha missão, se é que ela existe, e esta é, entre muitas outras, uma das lutas/angústias da minha vida. É eu saber o que quero dela, mas não fazer a mínima ideia ao mesmo tempo. É uma dor interior, constante e já me habituei a viver com ela.
Sou millenial? Sim, sou. Acho que consigo tudo na vida? Sim, acho. Vivemos na época em que toda a gente é educada a pensar que pode tudo na vida? Sim, vivemos.
E sim, isso tem influência.
Apesar de não ter sido aquela criança que era recompensada por tudo e por nada (nem recebia presentes só por ter boas notas, e ainda bem) ou que era levada a acreditar num mundo de unicórnios, a verdade é que cresci numa geração que foi ensinada a lutar sempre por tudo. E isso é bom. Mas as dores são, também elas, maiores. Ou então não... Ou então agora simplesmente somos incentivados a expô-las, coisa que no tempo dos nossos pais era mais correto oprimir.
MISSÃO = PROFISSÃO? CARREIRA?
Desde que chegou a altura de "escolher a área" e "escolher o curso" (para aí 15 anos?) que sempre fui confrontada com isto. O quê? Estava aqui tão sossegada da minha vida, e agora tenho de fazer ESCOLHAS? Sem saber? Sem ter maturidade para isso? Sem saber nada de nada da vida? Completamente condicionada a pensar que a minha missão de vida, depois de eu a descobrir (algo que em 27 anos ainda não consegui e I just don't have it all figured out), passava por concretizá-la através de uma profissão. De preferência, que pagasse bem. E se ajudasse alguém, lá está, melhor ainda.
Mas quando termino um dia e faço uma avaliação se foi um dia bom ou não, há tanto mais que entra em jogo. Senti que fiz algo com sentido? Com significado? Que me fez sentir bem e plena e que tenho algum valor?
O DINHEIRO É MUITÍSSIMO IMPORTANTE E QUEM DIZ QUE NÃO ESTÁ A MENTIR
Sim, o dinheiro é importante - muito! Mas na minha opinião, a sua maior importância não é a nível material. Não é a nível de ter o melhor carro ou o melhor telemóvel, nem no sentido de ostentar. Eu nem acho que seria uma pessoa desse género, se tivesse imenso dinheiro.
Agora, o dinheiro É IMPORTANTÍSSIMO no sentido em que desbloqueia a mente para a concretizar. Em que não temos a mente ocupada com pensamentos assim:
- "amava tirar este curso, e este e aquele, adorava aperfeiçoar este tema, investir nisto, aprender a fazer isto... oh, mas espera, não tenho dinheiro"
- "amava investir neste negócio, oops, não tenho dinheiro"
- "amava viajar durante meses, experimentar tudo o que houver para experimentar... oops, com que dinheiro?".
(e sim, eu sou Touro, eu preciso de conforto, não me digam que posso viajar de mochila às costas e fazer couch surfing porque isso não é o meu estilo por mais cool que seja. Eu sou mais estilo hotel 5 estrelas, estão a ver?).
Eu cada vez mais acredito, e muito, nisto: o dinheiro é energia e é uma energia que se for negativa, bloqueia. Bloqueia muito, muito mesmo.
Apesar de dizerem que todas as energias dependem de nós, até certo ponto, isso é verdade! Mas não a 100%. Eu realmente não controlo totalmente a energia financeira, de outro modo, já seria milionária. E o facto de não controlar frustra-me, porque eu sou control freak :P
O dinheiro é uma coisa que me afecta imenso e com o qual tenho uma relação amor-ódio.
Tenho imensas crenças limitativas em relação ao mesmo ("só se consegue dinheiro trabalhando muito arduamente e imensas horas por dia e dedicando a vida a isso", "o dinheiro só é limpo se for ganho por ti", "o dinheiro não é digno de merecimento se te for oferecido ou ganho por sorte" - sobretudo esta última, está muito presente em mim, ao ponto de afectar a minha vida).
O dinheiro é energia pura e cada vez mais percebo isso.
Lidar com essa energia? É complicado.
Mas sim, confesso, um dia eu adoraria conseguir ter uma fonte constante de dinheiro que me permitisse não ter a melhor vida material, mas sim, a melhor vida em termos de experiências, de poder CONCRETIZAR-ME. Sim, a palavra é concretizar. Sem bloqueios e sem pensar que tenho de dedicar imensas horas da minha vida a ganhar dinheiro que vai ser gasto em despesas - ora aqui está uma outra crença limitativa.
No fundo no fundo, eu só queria era VIVER sem ter de me preocupar com isso. Mas se tivesse nascido num berço de ouro, e nunca tivesse de me preocupar com isso, será que iria aproveitar assim tanto a vida? Será que tinha estas crenças, esta forma de ver? Será que ia achar que não era merecido, porque já tinha nascido com ele? Será que a riqueza ganha tem mais valor do que a riqueza herdada?
Lá está, questões. Questões e mais questões. Eu não olho para pessoas que têm ótimas condições de vida porque obtiveram dinheiro sem ser através do trabalho (por exemplo, heranças ou sorte ou já terem nascido numa família abastada), de uma forma negativa ou como não tendo valor; mas se fosse eu, já acharia que não teria tanto valor. Tanto é assim que, na minha cabeça, 10€ ganhos por sorte, 10€ dados por alguém, ou 10€ ganhos por mim não têm o mesmo valor. Mas só aplico isso a mim, não vejo assim com outras pessoas.
QUESTÕES EXISTENCIAIS? CRENÇAS LIMITATIVAS? VAMOS RESOLVÊ-LAS!
Ok, motivação para responder a estas questões e ter, dia após dia, uma visão mais clara desta coisa complexa aque chamam vida. Sozinha? Possível, mas complicado. Agora, está muito na moda o coaching. Bora fazer coaching! Com que dinheiro??
Até para resolver problemas pessoais de foro profundo e existencial é preciso gastar-se dinheiro. Que, na maioria das vezes, não se tem.
Ciclo vicioso. Again.
Se dependesse de mim já tinha corrido todos os psicólogos e coaches do país. Dedicava toda uma vida a descobrir o que raio vim aqui fazer a este mundo.
Posso? Não.
Só posso ser auto-didacta, ler, ver vídeos, auto-inspirar-me... Mas quando temos crenças limitativas na nossa cabeça é quase impossível tirá-las sozinhos.
CONTINUANDO COM A QUESTÃO DA PROFISSÃO/CARREIRA/MISSÃO
Porque é que esta escolha e esta missão e este propósito está ligado ao trabalho, à carreira, à profissão? Não tem. Tem a ver com a vida toda. O que não torna isto nada mais fácil, mas sim, bem mais complicado!
Eventualmente aceitei e hoje em dia considero que o propósito de vida é simplesmente vivê-la. Mas, confesso, que apesar de ser uma pessoa optimista e positiva por natureza, são muitos os dias em que eu acordo e sem qualquer vontade de me levantar da cama pergunto o que estou a fazer da minha vida. O que quero fazer dela. Qual o sentido dela. E se o que vou fazer naquele dia tem algum impacto whatsoever em algo ou alguém ou mesmo em mim; provavelmente, vai ser só mais um dia!
Adorava ser daquelas pessoas que está sempre motivada (será que existem?) e muitas vezes me questiono, adorando entrar em segredo na cabeça e coração das pessoas que têm imenso sucesso sem nunca parecer que se sentem na m*rda como todos nós seres mortais.
Mas quando páro para pensar no que poderia potencialmente ser a minha missão de vida, as primeiras palavras que me ocorrem são APRENDER e CRIAR. O que me faz sentir bem depois de um dia e sentir que teve significado? Sentir que aprendi algo que gosto de fazer e que criei algo com aquilo. Algo que se pode aplicar a profissão - estraga logo, porque uma coisa que era paixão passou a ser obrigação e uma forma de obter o tão desejado e abominado e necessário dinheiro - e não algo que fazemos porque gostamos de fazer.
Mas é sentir "opa, nem acredito que fiz isto, tão bom, adorei aprendê-lo, adorei fazê-lo e adoro o resultado final". Mesmo que não valha 1 cêntimo, faz-me sentir que ganhei o dia. Faz-me sentir viva.
Mas é sentir "opa, nem acredito que fiz isto, tão bom, adorei aprendê-lo, adorei fazê-lo e adoro o resultado final". Mesmo que não valha 1 cêntimo, faz-me sentir que ganhei o dia. Faz-me sentir viva.
O QUE É QUE ISTO TEM A VER COM ALGUMA COISA
NADA. Comecei a escrever esta emaranhada e resolvi separar com títulos para ficar mais coerente :P
A verdade é que se passou mais um ano, e como toda a gente (aqui sou muito "igual" a toda a gente, lol), impossível não fazer um balanço da nossa vida e do que fizemos dela nestes últimos 365 dias. Eu confesso, que acho que não fiz o suficiente, apesar de toda a gente dizer que fiz o máximo. É que eu sou muito exigente comigo mesma e não aceito menos do que excelência, eficácia, eficiência, etc etc. - se há um dia em que não faço nada porque não me apetece existir, fico a sentir-me muito mal, mesmo - uma crença limitativa.
Sim, 2017 foi um ano com bastantes concretizações profissionais (lá está) mas que ainda não me permitem estar DESBLOQUEADA. A verdade é que acabo esta ano com uma necessidade enorme de desbloquear, de modificar crenças que (só) estão na minha cabeça e que talvez seja isso que impeça que as coisas evoluam.
Foi um ano com acontecimentos pessoais e familiares tristes (apesar de continuar com uma relação excelente e amizades para a vida bem sólidas) e isso, claro, também afecta.
Não fiz nenhum plano em concreto para 2018. Tenho umas ideias na cabeça, não as especifiquei. Porquê? Porque os planos geram expectativas que se não se cumprem, ainda se fica pior do que se estava ao início. E eu, sou toda dos planos. Mas ultimamente, não tenho feito nenhum porque expectativas irrealistas e demasiado altas revelam-se destrutivas para mim.
Prefiro deixar que a vida - seja com missão ou sem missão - me surpreenda.